sábado, 21 de março de 2009

O homem de cinzento não pôde esperar...


Meu pai se foi na última quarta feira do verão e me deixou seu nariz adunco, mesmo nariz do pensador grego Aristóteles cujo busto da era romana foi encontrado sob a Acrópole, em Atenas. Me deixou igualmente suas sombrancelhas grossas e sua audácia em escrever histórias cujo os nomes seguem uma lógica muito peculiar. Meu pai me deixou também um legado que eu me apropriei antes mesmo de sua partida. Ele me ensinou a aceitar com ironia aquilo que não podemos mudar embora o dito seja "Que Deus nos dê "coragem" para...Assador de renome, entre os inúmeros frequentadores da casa e de paladar "gourmand", enquanto aguardava sua hora, meu pai buscou rever passagens da sua vida naquilo que degustava. Isso, talvez justifique seus desejos bizarros parecendo um "enfermo glutão". Eu, há pouco recebi dele, um "pedido solene" de preparar um arroz com coração de galinha. E me perguntei por que, entre os bolinhos de bacalhau do Chalé da Praça XV, as batatas fritas do kioske da praia, o camarão do restaurante chinês, a massa com gorgonzola feita em casa, e uma tainha na brasa, meu coração era tão importante. Até que compreendi que ele, estava reconstruindo sua história (da qual eu fazia parte e me encaixava tão bem) na lógica dele. Na prática, passamos meses compartilhando e degustando a mesa, lembranças de um passado feliz. Em tese esse parece ter sido o pensamento de um professor tão admirado por respeitar a lógica particular de cada um.

29 comentários:

luciana dariano disse...

Vera, que lindo te ler !! Beijo em todos vocês.

Anônimo disse...

Na minha mais recente estada entre os Mellos senti o colorido da vida. O celebrar a presença e a gratidão na partida. O homem de cinza veio nos mostrar a luz dos sabores, sejam no paladar, no degustar, no compartilhar, tanto, quanto no lembrar. Seu brilho é a conlusão lógica do colorido de seus jogos da alma. Sempre boas lembranças.Beijos
Circe

Anônimo disse...

Ainda que tenha partido, ele continua contigo em todas essas coisas, como tão bem descreves. No teu texto bonito, nas tuas lembranças, no que tu és.
Um beijo.

Anônimo disse...

Vera, que bom que nas palavras achaste uma forma de lidar com todas as coisas intensas e confusas que estás sentindo. Muita força, ma petite!

Atelier disse...

Está bonito, tocante e muito tu ( e ele). "Maria Lúcia Varnieri"

Atelier disse...

Vera,
delicado, sensível!
Beijo, Jorge

Atelier disse...

Verinha,
Está ótimo o teu texto! É certo que tens muito do teu pai e vais sempre me fazer lembrar dele quando estiver contigo! Que bom reter no teu blog essas lembranças amorosas!! Te felicito por elas. Que a veia de filósofa que tens te ajude a elaborar suavemente esta perda. Desejo que continues a escrever e rememorar a bonita história que tiveste com teu pai tão especial.
Um beijo carinhoso, minha querida. Loura

Atelier disse...

Oi Vera, adorei. Alias, gosto muito de com escreves, não posso dizer que me surpreendí com a tua maneira de escrever, pois te acho muito inteligente , espirituosa e muito criativa. Te agradeço por me convidar a compartilhar os teus sentimentos e sensações. Um grande beijo Prima Angia.

Atelier disse...

Vera,
teu pai deu a todos nós lições de vida, mesmo na hora da partida. Pareceu-me sempre um homem de muita tranquilidade e paciência, que não se deixava envolver pelas coisas in-essenciais do nosso mundo. Que essa corajosa e rara sabedoria nos contamine. Gostei muito de teu blog.
Beijos,Leny

Atelier disse...

Muito bonito. Ele deve ter tido muito orgulho dessa filha. grande beijo
"Maria Angélica"

Atelier disse...

Não sei se sei o que eu aprendi com o meu pai. Lindo texto.
"Rodrigo Monteiro"

Atelier disse...

Incrivel o talento para a escrita...é de familia.
Lindo...singelo... sensivel. ..me emocionei.

bjs e obrigada por compartilhar comigo.


Cynthia Müller

Atelier disse...

genial,emocionante e seguramente muito a ver....escrever bem é de família,não??
"Kober"

Atelier disse...

que lindo, Vera.
é um olhar tão peculiar desta situação toda... cheguei a me emocionar!
como vocês tão?
beijos, Ali

Atelier disse...

Puxa, Vera, que emocionante. Jacqueline Pinzon

Atelier disse...

Tu me fez chorar...isso é bom.
"Manu Kanitz"

Atelier disse...

Achei inusitado...
"Jaquebeatles"

Atelier disse...

Bela maneira é essa de perceber os rastros que foram deixados. Lindo texto.
Que permaneça a doçura plantada no coração.
abraço apertado,
"Laura backes"

Atelier disse...

m efizeste chorar, mas foi um choro bom, se é que me entendes! O Procópio tam´bem faz parte da minha vida como uma presença que sempre me trouxe uma posição clara e tolerante sobre as pessoas. que bom que o conheci e convivi muitas vezes...
Rosa Graça

Atelier disse...

Vera:
Obrigada! Por dividir tão lindos momentos e tão lindas lembranças de teu querido velhinho, sinto-me lisonjeada por esta oportunidade.
Um beijo carinhoso
Cris

Atelier disse...

Que bonito o que escreveste sobre teu pai.
"Elenara"

Ana Stumpf Mitchell disse...

Vera, ma professeur-amie!

Te agradeço por compartilhares energia tão doce e rica! Teus escritos tem asas, ma petite ange!

Um beijo enorme no coração!

Atelier disse...

belo texto, bela expressão de sentimentos, bela saudade...
"Ana Carolina"

Atelier disse...

Que bonito o que escreveste para o Procópio. Ele te deixou muitas coisas que lembrarás com carinho. É, o teu arroz com coração de galinha fazia parte do cardápio preferido dele
"Maria Elisa"

Anônimo disse...

Hoje, 26/03, é aniversário do meu pai que está em Sampa.

Hoje que resolvi ler desde aquele dia que vc me mandou o link.

Hoje escrevi coisas sobre meu pai também.

Admiráveis esses pais.

Não precisei nem de 1 pedaço de lenço quando vimos aquele filme, lembra-se?

Hoje preciso de um rolo inteiro...

;)

tamos aí.

bise

Raquel

Atelier disse...

Show !
Parabéns pelas palavras, pela lucidez...
Beijos,
Renato

Atelier disse...

“Estimada Vera, li emocionado em o que escreves acerca de teu pai, o querido e saudoso professor Procópio, muito especialmente pelos legados que ele te deixou.

Attico Chassot

Atelier disse...

texto lindo, vontade de chorar
amei,lindo, tocante
"Priscila"

Gustavo disse...

Vera, que beleza de texto, quanto sentimento...um beijo